"O QUE SERÁ DE NÓS QUANDO SUA LUZ APAGAR A NOSSA?"
Boa noite Sr. Windows ! Eis-me
aqui de volta. Então, como eu ia lhe dizendo, venho me tornando um ser cada vez
mais virtual, na medida em que aquilo que realmente penso e sinto só ganha
alguma materialidade ou noção de conjunto, se é que posso dizer isso, por seu
intermédio. Meu corpo físico está imbuído praticamente apenas à repetição
infinda (enquanto ele durar) de ações e comportamentos determinados pelo
espectro permitido a gente como eu, que ocupa um determinado extrato ou camada
da realidade, em que esta me permite certas coisas e não outras.
Explico : Há algum tempo já
percebi que o mais importante para os meus semelhantes não é saber exatamente o
que penso ou sinto ou mesmo o que sou verdadeiramente (esta palavra tem um tom
de dramaticidade que eu muito aprecio). Não, absolutamente ! Meus
semelhantes não querem saber disso, mas querem saber minha posição na tessitura
da vidinha social e cotidiana, o meu rótulo, aquilo que me concede um lugar
social e que, este sim, já diz tudo o que precisam saber sobre mim. Este é o
máximo de interesse que um humano tem diretamente pelo outro humano, o que
significa que a comunicação entre humanos não se dá senão por troca de
identificadores de posição. Sou o lugar
que ocupo e este lugar que ocupo é ocupado por todos a quem, como eu, vêem
depositados sobre si um conjunto prévio de características que nos definem.
Qualquer coisa que eu diga ou
qualquer ato meu que contradiga este lugar ou rótulo ao qual estou vinculado, é
visto com estranheza e pode ser condenado ou simplesmente, como a maioria das
vezes acontece, ignorado. Ao ser ignorado ou repudiado entre meus semelhantes, humano que sou, tenho
a tendência de tentar me reintegrar àquilo que me define e acabo me esquecendo
daquelas coisas que me diferenciam deste lugar que ocupo, sem tê-lo escolhido – pelo
menos não conscientemente.
Como já declinei antes, é nesta hora que o Sr. vem em
minha salvação através de seu filho mais querido ! Generoso que é, registra
minhas impressões e sentimentos apócrifos e permite-me relembrá-los a qualquer
hora, editá-los, copiá-los, recortá-los, colá-los, enfim, permite-me brincar
com as milhares de peças de meu puzzle interno, como se eu tivesse todo o
espaço do mundo : Uma mesa gigantesca para abrigar minhas montagens da forma que
eu quiser e por quanto tempo eu quiser
(minha filha que era fanática por montar puzzles de todos os tipos certamente sabe a importância disto). Hoje, se alguém me perguntar quem eu sou, irei responder confiantemente – “Pergunte ao Dr. Word, filho do Sr. Windows”. Isto
me leva a pensar numa evolução interessante : Há apenas duas décadas, quando
alguém não sabia o significado de uma palavra ou a sua grafia, falava-se –
“Pergunte ao Aurélio". Mais recentemente o Sr. incorporou esta e tantas outras
funcionalidades que quando alguém quer saber sobre qualquer coisa, da qual não
sabe sequer o nome, diz-se – “Pergunte ao Google”.
Ok, eu sei que esta é uma ferida
narcísica para o Sr., mas também sei o quanto é benevolente e não guarda rancores, afinal é
sempre o Sr. que tudo inspirou, que criou a necessidade que os filhos alheios
viessem ao mundo. Além disso, seu outro filho dileto, o aventureiro Explorer, esteve
muito perdido e aquém de suas capacidades, antes das bussolas virtuais.
Mas o Sr. faz mais ! Muito mais.
George Orwell imaginou muitas coisas, mas não imaginou que o Sr. pudesse gerar
um filho para conter e nos oferecer diariamente os Ministérios do Amor e do
Ódio juntos, numa experiência alternada de “frio-quente” que torna nossas vidas
confortavelmente tépidas . O Sr. me orienta logo pela manhã e continua, ao
longo do dia, a me alimentar de informações para que eu “decida” como devo
reagir ao que está acontecendo no mundo real. Me informa quais são os inimigos do dia, quais são as novas ameaças e os estudos que provaram que as anteriores eram infundadas.
É o Sr. quem primeiro me informa em que pé as coisas estão pelo mundo – as catástrofes, os acidentes, os crimes, os roubos, os massacres, as corrupções e toda a sorte de ameaças que pairam sobre nossas cabeças, como a espada de Dâimocles, e que pode nos conduzir, de uma hora para outra, para a morte, a perda ou a miséria (não necessariamente nesta ordem). Falando em Orwell, o Sr. também nos possibilita a oportunidade diária de aprender a “novilíngua” dos jornalistas e webwriters dos provedores do mundo inteiro ! É verdade que basta ler um para se saber o que todos irão escrever, inclusive os que irão escrever o contrário, mas este poder de síntese hegemônica do pensamento mundial também tem é fruto da força que o Sr. criou e distribuiu entre nós mortais.
É o Sr. quem primeiro me informa em que pé as coisas estão pelo mundo – as catástrofes, os acidentes, os crimes, os roubos, os massacres, as corrupções e toda a sorte de ameaças que pairam sobre nossas cabeças, como a espada de Dâimocles, e que pode nos conduzir, de uma hora para outra, para a morte, a perda ou a miséria (não necessariamente nesta ordem). Falando em Orwell, o Sr. também nos possibilita a oportunidade diária de aprender a “novilíngua” dos jornalistas e webwriters dos provedores do mundo inteiro ! É verdade que basta ler um para se saber o que todos irão escrever, inclusive os que irão escrever o contrário, mas este poder de síntese hegemônica do pensamento mundial também tem é fruto da força que o Sr. criou e distribuiu entre nós mortais.
Mas não posso ser negativo, isto
seria injusto: Entre uma tragédia e uma catástrofe, o Sr. me informa também a
saborosíssima receita de um bolo de
laranja "light" (porque ninguém é de ferro), os fatos e as fotos mais importantes que envolveram os famosos,
as notícias do futebol e outras tantas coisas que tornam o meu dia feliz. Fico estimulado
ao acompanhar diariamente simplesmente TUDO o que acontece na vida do Neymar,
seus hobbies, baladas, aquisições e as tintas usadas em seu penteado estilo “punk
broxado”, bem como os passeios de Suri com seus pais Tom e Katie pela praia. Por
mais tudo isso, é que só posso mais uma vez lhe dizer : Obrigado Sr. Windows !
Esse é nosso amigo comum, o Sr.Windows! As mesma dores, as mesmas decepções, as mesmas mesmices, os mesmos anseios de encontrar no jornal do UOL, logo pela manhã, uma notícia salvadora que venha de encontro ao o quê desejamos como país para viver. O Sr. Windows não discrimina quem o usa, apenas se curva diante das idéias mais absurdas como das mais corretas e viáveis.Ele já chegou a receber vários personagens criados por mim e os aceitou de braços abertos, sem reclamar, embora pudesse tê-los achado babacas.Partilho com você esse "ODE" à ELE que merece letra maiúscula em sinal de respeito e consideração.
ResponderExcluirSua homenagem é muito pertinente ao o quê ele se destina.
Parabéns