"Os livros têm os mesmos inimigos que os homens : o fogo, a umidade, os animais, o tempo e o próprio conteúdo" - Paul Valery
Não poderia deixar de citar neste
espaço, a profunda admiração que eu e qualquer aficionado por livros tem por
José Mindlin, este brasileiro que fez de sua própria vida uma obra de
arte. Tive o enorme prazer de assistir a
inúmeras entrevistas que concedeu, do alto de seus mais de 90 anos excepcionalmente bem vividos, que refletiam
seu caráter apaixonado, sereno, de uma cultura inigualável nos padrões
contemporâneos e mesmo assim, de uma humildade que deveria fazer corar nossa pseudo-intelectualidade
acadêmica urdida há décadas nas águas mortas do determinismo histórico e da
luta de classes. A história desse homem e seu amor pelos livros e pela cultura
não apenas gerou um exemplo inspirador, como deixou um legado aos brasileiros
de valor inestimável : sua imensa biblioteca particular, uma das maiores e mais
valiosas do mundo, que foi integralmente doada à USP, pouco antes de sua morte.
Nunca vi ou ouvi uma manifestação do corpo discente sobre este prêmio recebido
há poucos anos, fruto do investimento de uma vida inteira dedicada à cultura e
ao conhecimento. Embora a Edusp, junto com a Companhia das Letras tenham
editado um belíssimo volume – “Uma vida entre Livros – Reencontros com o Tempo”,
a repercussão deste fato foi
infinitamente menor na mídia do que qualquer entrevero entre polícia e
invasores de reitoria ou de espaços públicos. José Mindlin legou-nos ainda uma
bibliografia dedicada ao seu amor pelos livros e sua peregrinação pelo mundo,
em busca de volumes raros, primeiras edições, registros e documentos raros que
ajudam a resgatar e organizar a história da literatura nacional e
consequentemente, parte da história da humanidade. Suas histórias são
deliciosas, profundamente humanas e por vezes hilárias, como da vez em que sua
casa foi assaltada por um bandido que usou para coagi-lo a lhe dar um resgate,
nada mais do que uma caixa de fósforos com a qual ameaçava atear fogo aos seus
preciosos livros. Há ainda relatos das “perseguições” que teve que empreender pelo
mundo atrás de determinado livro ou documento, os sebos, os leilões. O maior exemplo
no entanto, não vem exclusivamente de sua predileção pelo saber, mas de ter
feito tudo isso, sem deixar de ser um brilhante advogado, secretário da Cultura, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, constituir uma bela
família e ser um dos mais bem sucedidos empresários que o país já teve :
construiu nada menos do que a Metal Leve – uma das maiores empresas do setor de
autopeças do Brasil. Em épocas em que o maior objetivo do mais badalado
empresário brasileiro é ser o mais rico do mundo até 2016 e que a solução para
a educação brasileira parece se concentrar exclusivamente no acesso ao ensino
oficial, independente da qualidade deste estar abaixo da crítica de qualquer
padrão internacional sério, Mindlin nos faz uma imensa falta !
Recomendo para os que admiram José
Mindlin, estas duas pequenas obras primas, riquíssimas em seu conteúdo, que me
deram um enorme prazer : “ No Mundo dos Livros” – Editora Agir – 2009 – 103 págs.
E “Uma Vida entre Livros – Reencontros com o Tempo “ – Edusp/ Cia. Das Letras –
2008 – 231 págs.
Mandou bem Eliseu.
ResponderExcluirSincera e justissima homenagem a ele !
É... a gente precisava de uns tantos empresários deste tipo e podíamos exportar os Eikes pra China !
ResponderExcluirVocê se lembra da sua primeira cartinha? Qual o nome? Me lembro da minha dos anos 30/40 e se chamava "CARTILHA SODRÉ".Nunca esqueci essa cartilha que começei a ler aos cinco anos e meio. Decifrar as letras me encantava! Tinha um texto sobre a árvore que dizia: A Árvore......."A árvore nos dá a sombra, as folhas, os frutos, a madeira....etc....etc.
ResponderExcluirPoder ler foi uma das grandes invenções do ser humano! Sua devoção à leitura é invejável.
Minha primeira cartilha foi a "Caminho Suave" e não obstante as críticas pedagógicas que recebeu posteriormente, sou muito grato à ela e a quem a elaborou. E concordo : a escrita foi uma das maiores invenções do ser humano e o hábito da leitura é a possibilidade de ampliar a experiência e aproveitar o que nossos antepassados e contemporâneos experimentaram e pensaram ao longo de sua existência.
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